domingo, 5 de agosto de 2012

Fabi admite mudar seus planos e deixar seleção após Londres







A ideia era se despedir da seleção brasileira após os Jogos do Rio de Janeiro, mas, aos 32 anos, Fabiana Alvim de Oliveira andou pensando bem e já não descarta pendurar as joelheiras e aposentar a camisa 14 ao fim das Olimpíadas de Londres. Famosa por sua raça e entrega dentro de quadra, a melhor líbero do mundo garante que ainda aguenta muita "porrada" das atacantes rivais, mas reconhece que o tempo é cruel, o corpo já não é mais o mesmo e que só aceitará defender o Brasil em 2016 se ainda estiver dando frutos e jogando em alto nível.

Fabi, Brasil x Coreia do Sul, Vôlei (Foto: Agência AP)

- De uns tempos para cá eu comecei a pensar em algumas possibilidades. De continuar até o Rio ou até de me despedir em Londres. Sempre pensei em chegar até lá, mas ao longo dos anos percebi que pode ser que não dê. Nós traçamos planos, mas nem sempre acontece da forma que a gente imagina - afirma a jogadora.

O destino pode ser traçado neste domingo, quando o Brasil enfrenta a Sérvia de calculadora na mão. Após a vitória da China sobre a Coreia do Sul apenas no quinto set, resultado que classificou as duas equipes, o time brasileiro depende de uma vitória dos Estados Unidos sobre a Turquia, às 16h (de Brasília), e também precisa vencer para avançar. O jogo começa às 18h, com transmissão do SporTV e ao GLOBOESPORTE.COM acompanha em Tempo Real.

Na semana que antecedeu o embarque para Londres, ainda em Saquarema, a líbero conversou com o GLOBOESPORTE.COM e revelou que, após tantos anos de convivência com José Roberto Guimarães, não descarta virar treinadora quando parar de jogar.

Brasil x Coreia do Sul, Vôlei, Fabi (Foto: Agência Getty Images)

Você acha que chega até os Jogos do Rio-2016?
Não sei.

Londres, então, marca sua despedida da seleção?
- De uns tempos para cá eu comecei a pensar em algumas possibilidades. De continuar até o Rio ou até de me despedir em Londres. Sempre pensei em chegar até lá, mas ao longo dos anos percebi que pode ser que não dê. Nós traçamos planos, mas nem sempre acontece da forma que a gente imagina. As vezes nos superamos e conseguimos ir ao limite, as vezes não. Amo jogar vôlei e quero ir até aonde der. É o que eu mais gosto de fazer. Tenho uma paixão enorme e vivo isso aqui intensamente. O vôlei é a minha vida e enquanto eu puder dar frutos, vou estar aí. O fato de pensar assim não quer dizer que eu não tenha mais desafios e não vislumbre estar nos Jogos do Rio 2016. Mas seria ir além, superar minhas expectativas. Seria um desafio.

Mas quem te conhece sabe que você só vai jogar as Olimpíadas do Rio se estiver na ponta dos cascos, certo?
Claro. Exatamente isso, pois a gente vive de desempenho. O seu nome não joga vôlei por você. É preciso estar na sua melhor forma. Ainda mais hoje que a responsabilidade de vestir a camisa do Brasil é enorme. Comecei a pensar nisso de alguns anos para cá, e aí rola uma nostalgia de tudo que você viveu dentro das quadras até hoje. Você começa a tirar fotos de novo, a querer registrar os momentos e perceber que toda competição pode ser a última.

Você chega numa idade que nem fica mais triste com as críticas. Fica triste só quando coloca a cabeça no travesseiro e percebe que não é mais capaz de pegar uma bola que antes você costumava pegar"
Fabi

Você ainda aguenta as "porradas" das atacantes?
Aguento (risos). Eu vejo o Serginho falando de brincadeira que está mais velho e que não é mais a mesma coisa. O corpo não é mais o mesmo realmente, isso é óbvio. O tempo é cruel, mas eu acho que não compromete o desempenho. Seu corpo passa a te dizer que você não tem mais 25 anos e que vai precisar de mais atenção e dedicação para chegar naquela bola que antes você alcançava brincando. É engraçado que têm coisas que pesam contra quando a idade chega, e outras até mais a favor. Você fica mais experiente e passa a perceber e antecipar melhor as jogadas. A ansiedade diminui, você consegue ser um pouco mais forte e sereno, mas não tem como fugir de não ser mais a mesma coisa.

Em algum momento você já se pegou pensando que tudo isso está acabando?
Pior que já.

Dói, dá medo?
Dói, mas medo não. Nos últimos anos eu comecei a me preparar para isso fora das quadras. Encaminhar as coisas na parte financeira e perceber que, às vezes, vale mais a pena guardar o dinheiro em vez de comprar uma coisa nova. Eu leio muito, gosto bastante de esporte e procuro me inspirar nas histórias dos outros. Ao longo desses anos eu vi vários ídolos se aposentarem e aí você começa a aproveitar as dicas e perceber o quanto é difícil esse momento. Eu ouvi o Ronaldo e o Cafu, no futebol, e o Nalbert falarem sobre essas questões. A gente fica velho para o esporte, mas novo para a vida, e ela continua. Já conversei sobre isso com minha família, meus amigos, mas enquanto eu estiver feliz, me sentindo bem e, principalmente, disposta, eu quero seguir jogando. Você chega numa idade em que nem fica mais triste com as críticas. Só quando coloca a cabeça no travesseiro e percebe que não é mais capaz de pegar uma bola que antes você costumava pegar.

Você já sabe o que vai fazer quando parar de jogar?
Certeza eu não tenho, mas eu acredito que seja no vôlei. É um recomeço, mas se eu sair daqui vai ser um recomeço muito distante. São muitos anos aqui, dez anos de seleção, 18 de clube. Eu quero retribuir, pois tudo que tenho hoje eu devo ao vôlei. Hoje tenho um táxi, uma herança genética, já que meu pai teve um a vida inteira e meu irmão também tem, que me dá uma tranquilidade para quando eu parar poder pensar em algo que continue me motivando. Mas não tenho nada definido ainda.

Você pensa em ser treinadora?
Eu já pensei nisso. São anos convivendo com Zé Roberto, Bernardinho, Luizomar, caras que estão aí há anos, e você começa a perceber que suas observações e leituras de jogo são parecidas. E eu gosto, pois tem um monte de gente que quando para não quer nem ouvir falar de vôlei na vida. Eu não consigo me imaginar longe do vôlei.

Fabi, da seleção feminina de vôlei (Foto: Divulgação / CBV)

Você se sente uma privilegiada por ser treinada ao mesmo tempo pelo Bernardinho e o Zé Roberto?
Acho que sim. Se eu não sou privilegiada, levo muita vantagem (risos). Tem o contra também que são os esporros, mas existem muito mais coisas a favor. Muita gente gostaria de conviver com um dos dois e eu convivo com os dois. São muitos anos de convivência e a gente já conhece as características e sabe exatamente o que eles estão pensando. Eu me considero uma pessoa extremamente privilegiada por essa convivência e acredito que vou tirar alguma coisa boa para dar continuidade a minha vida dentro do esporte.

Mesmo após abrir mão de parte da infância e da adolescência, muitos atletas pensam em seguir no esporte e repetir essa rotina de viagens, treinos e jogos como técnicos ou dirigentes quando param de jogar. Essa vida maluca não cansa?
Acho que quem faz esporte em alto nível não é normal. É uma rotina diferente quando você é atleta e quando apenas faz parte de uma comissão técnica. Por mais que você se ausente, você não trabalha mais com seu corpo, existe um estresse diferente. Mas têm coisas na vida que não voltam nunca mais. A Paula (Pequeno) não viu a filha dela com três meses, pois ela estava disputando o Mundial com a gente. A filha dela nunca mais vai fazer três meses. Assim como a Olimpíada que a gente jogou em Pequim não volta mais. Tem momentos que nunca mais voltarão, mas é uma escolha e que vale a pena. Nós não temos nada de normal, mas é a paixão. Eu vejo muito jogador de futebol falando que sente falta da fama, de não ser mais reconhecido na rua e isso para eles têm um peso muito grande.

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